Quando o Cotidiano Vira Poesia

O ato de passar um café, o barulho do portão do vizinho às seis da manhã, a fresta de luz que insiste em pousar na mesma parte do chão todos os dias — tudo isso é matéria-prima para uma escrita que acolhe, que traduz o mundo comum em páginas extraordinárias.

Quando Rubem Braga escrevia sobre suas andanças pelas ruas do Rio, ou Clarice Lispector mergulhava nos silêncios de uma mulher preparando batatas, não estavam apenas narrando cenas: estavam devolvendo alma às pequenas coisas.

O escritor atento não precisa de grandes feitos para escrever. Basta perceber com profundidade. O poema está na espera do ônibus, no copo esquecido na pia, no bocejo de um cachorro velho à sombra da varanda.

Mais do que estilo, transformar o cotidiano em poesia é um gesto de reconexão. É um modo de habitar o tempo. E talvez seja isso que a literatura mais deseja: nos devolver a beleza do instante.

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