A Casa Onde a Palavra Mora

Na rua de paralelepípedos, quase escondida entre galhos de ipê e cheiro de café coado, ficava a Casa do Escrever. Não tinha número visível — apenas uma pequena placa de madeira com a palavra “Entre”.

Ali não se batia na porta. Entrava-se em silêncio, como quem pede permissão à própria memória.

As paredes eram forradas de estantes que não sustentavam apenas livros, mas o eco de vozes que um dia encontraram abrigo no papel. A mesa central, gasta nas bordas, parecia esperar sempre o retorno de quem precisava escrever para existir.

Cada visitante deixava uma palavra. Um trecho. Um suspiro. E, com o tempo, a Casa foi ficando cheia de ausências presentes.

Era a casa de todos os que escreveram um dia. E de todos que ainda iriam escrever.

Afinal, a escrita não mora nas palavras — mora no desejo de dizê-las.

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